17.2.09

Governo Serra também tira nota zero na Educação

E depois ainda dizem que a culpa é do professor...

O governo Serra divulgou o absurdo da quantidade de zeros que os professores eventuais receberam numa prova feita pela Secretaria da Educação.
O que o tal (des)governo não mostra são os absurdos da educação em São Paulo: a existência desse enorme contingente de professores temporários, por exemplo, eles não são funcionários públicos, mas também não são “celetistas”. Ausência de condições de trabalho adequadas, salários desestimulantes etc.
Claro que machuca a idéia de que um número tão grande de professores, habilitados, não consiga acertar uma única questão em 25.
Perguntinhas básicas: onde foram formados esses professores? Quem autorizou que tais arapucas funcionassem como faculdades? Quem as fiscaliza e como são fiscalizadas?
A mídia se ausenta dessa discussão, essencial para a construção de um país preocupado com os seus cidadãos.
Além disso, a grande mídia se omite em momentos cruciais. Cadê os jornais quando os estudantes pedem MAIS QUALIDADE nos seus cursos, como é o caso daqueles da UNIESP?
Hoje a Folha de S. Paulo, em texto excelente de Laura Caprioglione, nos mostrou, de maneira surpreendente, uma faceta da incompetência tucana na educação, leiam abaixo.

Estado põe aluno em puxadinho de madeira

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os alunos da Escola Estadual Professora Eulália Silva, no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, começaram as aulas com uma novidade. Onde havia a quadra de esportes, coberta há cerca de dois anos, os gols e as tabelas de basquete, a gestão José Serra (PSDB) improvisou seis salas de aula feitas de madeirite, aquelas folhas de madeira usadas para cercar obras.
As aulas de educação física, a partir de agora, serão ministradas em um pátio interno da escola, inadequado à prática de esportes de quadra -o pé direito é baixo e a área é pequena.
Ontem, as salas de madeirite não estavam prontas. Operários pintavam as paredes e fixavam as telhas de brasilite. O mobiliário escolar continuava empilhado. Não havia lousas.
Segundo a diretora Tânia Lucia dos Santos Escaler, 44, tudo deverá estar pronto hoje, quando devem começar as aulas dos 504 alunos de 1ª a 4ª séries, que serão alojados no "puxadinho".
A construção de alvenaria da escola tem 30 anos. Dispõe de 12 salas de aula. Mas o número é insuficiente para os 2.000 alunos dos ensinos fundamental e médio (há ainda uma classe para deficientes auditivos).

Seis por meia dúzia
Para acomodar todo mundo, o Eulália sempre teve três turnos diurnos (7h-11h, 11h-15h, 15h-19h), em vez dos clássicos turnos da manhã e da tarde.
Como o tempo de permanência dos estudantes na escola fosse pequeno durante a semana, obrigavam-se professores e alunos a também ter aulas aos sábados. "Nós não estamos trocando seis por meia dúzia", diz a diretora. De fato. Troca-se meia dúzia de dias de aula por cinco, com duração maior (7h-12h e 13h-18h). Com isso, acaba o chamado "turno da fome" -das 11h às 15h.
Segundo a diretora, as novas classes permitirão atender à reivindicação dos professores, que assim economizarão tempo e dinheiro de transporte.
Pais e alunos não ficaram tão animados. No auge do programa Escola da Família, ao qual o Eulália aderiu com entusiasmo em 2003, abrindo suas instalações para atividades extra-classe nos finais de semana, um dos pontos fortes, dizia-se, era o "efeito psicológico" de franquear a quadra a alunos que antes eram obrigados a pular o muro às escondidas para bater uma bolinha.
E agora? "A comunidade tem uma enorme capacidade de adaptação. Encontrará outros lugares para a prática desportiva", diz a diretora, para a qual as aulas de educação física também não serão afetadas. "É só mudar as atividades."
A engenheira Maria Célia Ribeiro Sapucaí, 58, diretora do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, diz que um ponto crítico das novas salas pode ser o isolamento acústico, já que os ambientes serão usados por turmas em geral barulhentas (cerca de 30 meninos com idades entre 7 e 10 anos).
No governo Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1995), na zona leste de São Paulo, construiu-se a Escola Estadual Cohab Carrãozinho com placas de madeira. Era para ser provisório. Durou 10 anos. Na época, um garoto dizia: "Gosto das aulas de português. Só que, quando a professora faz as leituras, a gente não consegue ouvir tudo nem consegue fazer as lições. O barulho é muito grande".
A diretora do Eulália não se intimida com o precedente: "Eu não crio problema antes de ele existir".
Folha de S. Paulo – 17/02/09.

Um comentário:

Marco Antonio disse...

Caro professor TONI, gostaria de abordar a questão dos professores eventuais.
Até hoje eu não entendo o motivo da APEOESP não colocar seu departamento jurídico para obrigar o Estado a assumir o passivo trabalhista criado com estas contratações ilegais e imorais.
Não se trata apenas, como alguns possam pensar, em atuar no varejo, pelo contrário, ao assumir a luta de milhares de trabalhadores submetidos à fraude trabalhista, a APEOESP abre a possibilidade de discutir a carência de professores efetivos nas escolas paulistas.
Os profissionais contratados como eventuais são aviltados em direitos básicos, que a CLT garante a todos os trabalhadores, como férias integrais, 13 salário integral, mas acima de tudo, na atual legislação previdenciária, contagem de tempo para aposentadoria.
Todos os anos estes trabalhadores são admitidos e demitidos, refazendo-se o processo no ano posterior, isto provoca a interrupção da contagem de tempo de trabalho, além de impor pagamento inferior ao que lhe seria de direito, nas férias e 13 salário.
Individualmente e temerário que o trabalhador recorra ao judiciário, mas uma representação da APEOESP junto ao MPT seria um caminho válido.