23.6.22

Não ter raízes

 Seguindo com as republicações vai um texto publicado em 14/7/06.

 

Às vezes isso é um problema, outras vezes solução!

Fazendo uma viagem no tempo percebi como sou desconectado de um lugar.

Vejam, nasci em Lucélia, uma pequena cidade do interior de São Paulo, muito cedo fui para o mundo, com meus pais. Vivemos aqui em São Paulo entre a metade dos anos 60 e dos anos 70.

Morei na zona norte e depois nos bairros operários do fundão da zona sul.

Pelo meio dos anos 70 mudamo-nos para Varginha, sul das Minas Gerais. Lá vivi minha adolescência e início da idade adulta, cronologicamente falando.

Em 1981 saí de Varginha, retornei para São Paulo.

Nos primeiros anos um grupo de amigos e um amor desvairado me mantiveram amarrado naquela bela cidade do sul das Geraes.

O amor se foi, graças ao grande idiota que sou, os amigos foram tomando rumos diferentes e a própria distância cuidou de nos separar, hoje mantenho contato apenas com um desses amigos lá das montanhas do sul de Minas.

Quando voltei para São Paulo, a ditadura militar já caminhava para o seu ocaso e me dediquei de corpo e alma a militância política.

Partido clandestino, alimentando o sonho da revolução que nunca veio, movimento popular, construção do Partido dos Trabalhadores, movimento sindical...

Respirava política. Até que “os meus amigos” (ao contrário do que disse Cazuza) chegaram ao poder. Cada fatia de poder que eu via os “caras” abocanharem crescia minha decepção e desencanto.

Paralelamente a uma carreira profissional num banco alimentava essa intensidade política.

Veio a crise dos 30. Crise profissional, pessoal, financeira, política... Resolvi virar professor e abandonar todo o resto. Mais um rompimento. Os grandes amigos do tempo do Banco, do Sindicalismo, do Partido, enfim daquele mundo no qual vivia, foram raleando e desaparecendo.

Desde 1993 na sala de aula. Passei por várias escolas e fiz poucos amigos, parece que estou vacinado contra as perdas, por isso não me importo muito em fazer aquisições.

Vínculos mesmo só com uma turma de faculdade. Longas jornadas de truco e cerveja noite à dentro (e a fora), criaram uma amizade que parece ser inquebrantável, embora cada um no seu canto, com seus afazeres, ainda nos reunimos esporadicamente.

Aliás, amanhã tem churrasco, talvez eu até apareça, embora depois da minha internação no INCOR esteja evitando “áreas de risco” (entendam: picanha, cerveja, truco... só!).

Talvez esteja me sentindo velho. Ou a perda de algumas pessoas próximas nos últimos anos tenha me trazido o medo da morte, mas estou com uma vontade irresistível de restabelecer alguns laços, menos com “os amigos” que estão no poder, sentados nas mesas luxuosas do Planalto Central.

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