28.6.22

Votar não é passar um cheque em branco

Seguindo a recuperação dos texto antigos, vai um, publicado em 27/09/2008. Mantive os erros originais, só está atualizado quanto à reforma ortográfica. Infelizmente os links se quebraram e não consegui recuperá-los. 

Vou enviar para alguns ex-alunos, que, embora tenham lido uma coisa ou outra aqui no blog, insistem em me chamar de lulista. 

Não sou e nem nunca fui lulista, apenas votei nele em todas as eleiççoes das quais participei (desde 1982) por considerá-lo o representante das melhores propostas para o conjunto da sociedade, mas nunca deixei de criticar os erros do PT e do próprio Lula.

O voto não é uma carta branca, nem uma procuraçao individual, é uma postura coletiva.

O país melhora, mas a passos lentos

Por estes dias o IBGE divulgou a nova edição do PNDA – Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar. Clique aqui para ter acesso a ela na íntegra ou aqui, para vê-la num caderno especial do jornal O Estado de S. Paulo.

Os indicadores apresentam, sem exceção, melhorias. O problema é o ritmo destas melhorias.

Para não receber pauladas dos meus amigos petistas/lulistas, é importante ressaltar que estes mandatos do Lula foram significativos para os mais pobres.

Muitos foram incluídos na situação de consumidores, tiveram acesso a uma maior quantidade de bens de consumo, bem como saneamento básico, saúde e educação.

Até mesmo o combate à corrupção teve relativo sucesso no primeiro mandato, embora o ímpeto tenha refreado neste segundo mandato.

Os acertos continuam sendo feitos pelos “de cima”, como tudo desde Caminha até nossos dias, por isso a sociedade se vê excluída do processo.

Se é verdade que mais crianças estão na escola e que muitos jovens pobres tiveram acesso ao ensino universitário por meio do ProUni, é verdade também que a qualidade da educação é sofrível, com avanços tímidos, sem envolvimento da sociedade.

Algumas instituições que fazem parte do ProUni parecem escolas de suplência, isso graças a proliferação de cursos universitários nos dois desgovernos do FHC, enquanto o ensino básico continua patinando, tanto nos indicadores nacionais quanto internacionais.

A questão da educação passa por uma forte política de Estado, com algo bem próximo de 10% do PIB reservado a ela, como investimentos e não gastos, além de uma forte mobilização popular, com uso de rádio, TV e agressivo “marquetingue”.

Escolarização obrigatória e ensino de período integral! Professores com dedicação exclusiva às suas escolas! Salários e condições de trabalho dignos! Participação intensa de todas as instâncias da sociedade, da família, essencial, ao STF.

Lula e os partidos da base aliada (partidos? Quaquaqua!) não tocaram neste trauma nacional como deveriam, embora reconheça no ministro Fernando Haddad um ótimo técnico/político da área, pena que sempre subordinado aos ditames da política econômica.

A distribuição de renda melhora a olhos vistos.

Desde 1993 experimentamos sucessivas reduções no Índice de Gini (clique aqui se você não sabe o que é isso), indicador da desigualdade de renda.

Esbarramos, contudo, num impedimento que a diminuição da desigualdade se acelere: a Reforma Agrária. Sem profundas mudanças no sistema de acesso à terra e produção agrícola continuaremos patinando eternamente na distribuição da renda.

No primeiro mandato os sinais de que ela – a Reforma Agrária – ocorreria eram inequívocos, a começar pela equipe que coordenava o processo, comandada por Plínio de Arruda Sampaio.

O apoio do MST e capacidade de interlocução do governo com as organizações que lutam pela reforma agrária era sinal de que desta vez seria diferente. Bastou o tempo para desmentir nossas esperanças.

É claro que melhorou o tratamento da Agricultura Familiar, por outro lado não se construiu uma política agrícola para o país, por isso o presidente da República tornou-se refém da “bancada ruralista” em diversas negociações no Congresso Nacional.

Já na reeleição o MST sinalizava que a coisa não andava lá essas coisas nas relações com Lula e a tal base aliada, mas ainda assim manifestou seu apoio.

No presente instante o desencanto é geral. O latifúndio conseguiu tirar do governo pessoas da índole de Marina Silva, derrotada pelo estrategista de Daniel Dantas, o senhor Mangabeira Unger – conhecido como Ministro do “Futuro” –, gestor dos projetos de intervenção na Amazônia

Esses dois pilares são fundamentais para a construção de um país de verdade, sem eles, erguidos e bem fundamentados, não iremos a lugar algum, estaremos condenados aos soluços de crescimento econômico com espasmos de desenvolvimento.

Finalmente tinha a esperança de que a eleição do Lula, faria com que o capitalismo brasileiro se voltasse para o sistema produtivo em detrimento do capital financeiro. Não é o que vemos.

O país é um paraíso para os especuladores, que aqui desembarcam para navegar nos mares tranquilos do ganho fácil e garantido.

Texto de 27/9/08.

Nenhum comentário: