Seguindo a recuperação dos texto antigos, vai um, publicado em 27/09/2008. Mantive os erros originais, só está atualizado quanto à reforma ortográfica. Infelizmente os links se quebraram e não consegui recuperá-los.
Vou enviar para alguns ex-alunos, que, embora tenham lido uma coisa ou outra aqui no blog, insistem em me chamar de lulista.
Não sou e nem nunca fui lulista, apenas votei nele em todas as eleiççoes das quais participei (desde 1982) por considerá-lo o representante das melhores propostas para o conjunto da sociedade, mas nunca deixei de criticar os erros do PT e do próprio Lula.
O voto não é uma carta branca, nem uma procuraçao individual, é uma postura coletiva.
O país melhora, mas a passos lentos
Por estes
dias o IBGE divulgou a nova edição do PNDA – Pesquisa Nacional por Amostra
Domiciliar. Clique aqui para ter acesso a ela na íntegra ou aqui, para vê-la num caderno especial do jornal O Estado de S.
Paulo.
Os
indicadores apresentam, sem exceção, melhorias. O problema é o ritmo destas
melhorias.
Para não
receber pauladas dos meus amigos petistas/lulistas, é importante ressaltar que
estes mandatos do Lula foram significativos para os mais pobres.
Muitos foram
incluídos na situação de consumidores, tiveram acesso a uma maior quantidade de
bens de consumo, bem como saneamento básico, saúde e educação.
Até mesmo o
combate à corrupção teve relativo sucesso no primeiro mandato, embora o ímpeto
tenha refreado neste segundo mandato.
Os acertos
continuam sendo feitos pelos “de cima”, como tudo desde Caminha até nossos
dias, por isso a sociedade se vê excluída do processo.
Se é verdade
que mais crianças estão na escola e que muitos jovens pobres tiveram acesso ao
ensino universitário por meio do ProUni, é verdade também que a qualidade da
educação é sofrível, com avanços tímidos, sem envolvimento da sociedade.
Algumas
instituições que fazem parte do ProUni parecem escolas de suplência, isso
graças a proliferação de cursos universitários nos dois desgovernos do FHC,
enquanto o ensino básico continua patinando, tanto nos indicadores nacionais
quanto internacionais.
A questão da
educação passa por uma forte política de Estado, com algo bem próximo de 10% do
PIB reservado a ela, como investimentos e não gastos, além de uma forte
mobilização popular, com uso de rádio, TV e agressivo “marquetingue”.
Escolarização
obrigatória e ensino de período integral! Professores com dedicação exclusiva
às suas escolas! Salários e condições de trabalho dignos! Participação intensa
de todas as instâncias da sociedade, da família, essencial, ao STF.
Lula e os
partidos da base aliada (partidos? Quaquaqua!) não tocaram neste trauma
nacional como deveriam, embora reconheça no ministro Fernando Haddad um ótimo
técnico/político da área, pena que sempre subordinado aos ditames da política
econômica.
A
distribuição de renda melhora a olhos vistos.
Desde 1993
experimentamos sucessivas reduções no Índice de Gini (clique aqui se você não sabe o que é isso), indicador da
desigualdade de renda.
Esbarramos,
contudo, num impedimento que a diminuição da desigualdade se acelere: a Reforma
Agrária. Sem profundas mudanças no sistema de acesso à terra e produção
agrícola continuaremos patinando eternamente na distribuição da renda.
No primeiro
mandato os sinais de que ela – a Reforma Agrária – ocorreria eram inequívocos,
a começar pela equipe que coordenava o processo, comandada por Plínio de Arruda
Sampaio.
O apoio do
MST e capacidade de interlocução do governo com as organizações que lutam pela
reforma agrária era sinal de que desta vez seria diferente. Bastou o tempo para
desmentir nossas esperanças.
É claro que melhorou
o tratamento da Agricultura Familiar, por outro lado não se construiu uma
política agrícola para o país, por isso o presidente da República tornou-se
refém da “bancada ruralista” em diversas negociações no Congresso Nacional.
Já na
reeleição o MST sinalizava que a coisa não andava lá essas coisas nas relações
com Lula e a tal base aliada, mas ainda assim manifestou seu apoio.
No presente
instante o desencanto é geral. O latifúndio conseguiu tirar do governo pessoas
da índole de Marina Silva, derrotada pelo estrategista de Daniel Dantas, o
senhor Mangabeira Unger – conhecido como Ministro do “Futuro” –, gestor dos
projetos de intervenção na Amazônia
Esses dois
pilares são fundamentais para a construção de um país de verdade, sem eles,
erguidos e bem fundamentados, não iremos a lugar algum, estaremos condenados
aos soluços de crescimento econômico com espasmos de desenvolvimento.
Finalmente
tinha a esperança de que a eleição do Lula, faria com que o capitalismo
brasileiro se voltasse para o sistema produtivo em detrimento do capital
financeiro. Não é o que vemos.
O país é um
paraíso para os especuladores, que aqui desembarcam para navegar nos mares tranquilos
do ganho fácil e garantido.
Texto de
27/9/08.
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