A "Onda” Kassab e a classe média paulistana.
Uma Nova Velha História.
"(...) O indivíduo completo é aquele que tem capacidade de entender o mundo, sua situação no mundo e que, se ainda não é cidadão, sabe o que poderiam ser os seus direitos.
É neste sentido que me pergunto se a classe média é formada de cidadãos. Eu digo que não. Em todo caso, no Brasil não o é, porque não é preocupada com direitos, mas com privilégios. O processo de desnaturação da democracia amplia a prerrogativa da classe média, ao preço de impedir a difusão de direitos fundamentais para a totalidade da população. E o fato da classe média gozar de privilégios, não de direitos, que impede aos outros brasileiros ter direitos. É por isso que no Brasil não há cidadãos. Há os que não querem ser cidadãos, que são as classes médias, e há os que não podem ser cidadãos, que são todos os demais, a começar pelos negros que não são cidadãos. Digo-o por ciência própria. (...) "
Milton Santos
De novo a cidade de São Paulo nos presenteia com sua tradição política conservadora.
No momento em que qualquer pessoa minimamente informada e bem intencionada comemora o 'funeral' nacional do PFL, agora disfarçado ou travestido de DEM (Democratas, belo nome pra justamente eles que foram a base de sustentação da Ditadura Fascista de 64) derrotado até na Bahia terra de seu ícone ACM – justamente em São Paulo a maior cidade do Hemisfério Sul vergonhosamente representa a grande esperança de sobrevivência do partido que é a cara do Coronelismo do Sertão, do atraso, dos Generais, da antiga UDN, etc.
Especialmente na cidade de São Paulo esse 'ideal' se é que podemos chamá-lo assim, importado de Portugal Medieval, aqui 'adaptado' pelos Bandeirantes (Bandoleiros e Assassinos fundadores da sociedade mais violenta do planeta) e "aperfeiçoado" pelos Barões do café – (Jecas Aristocráticos metidos a Europeus que enriqueceram esfolando escravos e imigrantes e condenando o país a um atraso secular)
Este mesmo 'ideal' ressurge e sobrevive sistematicamente na cidade de São Paulo, por vezes de forma inacreditável em jovens e em pobres – que se pensam classe média e reproduzem sem saber ou mesmo com convicção – argumentos reeditados de seus avós ou bisavós que outrora votaram em Carlos Lacerda, Jânio, Ademar de Barros e saíram às ruas com "Deus, a Família e etc.". Renasce novamente e de novo se afirma "orgulhosamente’: avesso à política. Mas são os mesmos de sempre que não perdem uma oportunidade de elegerem Maluf, Collor, Pitta e agora Kassab.
Esta História (ou farsa?) é monótona em sua estranha fixação de sempre andar para trás.
Como também é monótona a 'ladainha' de seus argumentos propagados por pólos de excelência: tipo Revista Veja, Caras, e por aí vai.
Argumentos que sempre objetivam uma única e sagrada garantia: que no final das contas nada mude nem um milímetro!
E talvez aí resida a alma desta herança maldita: o medo!
No fundo parece que esta 'tacanhice' crônica nasce mesmo do medo daquilo que não conhecemos ou por profunda ignorância não queremos conhecer. E se há uma coisa que praticamente nunca existiu no Brasil – o país onde a escravidão foi (ou é?) a instituição mais importante de toda a sua história – essa “coisa” assustadora se chama solidariedade. Daí esse modelo de “civilidade” anti-social onde nossa classe média é especialista e o maior objetivo de votar em Kassab assim como votou em Serra: manter a periferia como sempre esteve (EXCLUÍDA).
Num mundo que cada vez mais se torna analfabeto, o analfabetismo “espiritual” desta cidade chega a impressionar.
A história também mostra o que uma classe média tacanha é capaz.
É claro que exemplo maior é o Nazismo Alemão, onde uma classe média egoísta, ambiciosa, assustada, medrosa e ignorante foi a principal responsável pela ascensão de Hitler e seu "ideal" também conservador.
Nossa classe média, penso, é de fato muito parecida. Vemos o preconceito como seu traço principal. Mas, muito mais forte que isso é o seu desejo de receber ordens. (Atualmente Universidades, que já foram centros de excelência, recorrem a reuniões de pais e pedagogia infantil para educar jovens de classe média “geração Malhação ou pós Xuxa”) Este grupo parece desejar ardentemente ordens: seja de um deus, de um patrão, de um governo, ou especialmente daquele que ela mais respeita e teme: a mídia.
Como uma criança que não quer crescer, tudo que ela sonha é com um "pai” autoritário que lhe diga o que é certo e retire o insuportável peso de ter de assumir responsabilidades assim como fazem as marcas, as “tendências" da moda, as “grifes” que tanto são obedecidas.
Essa mesma classe média que cotidianamente nos brinda com exemplos de sua “civilidade” em reuniões de condomínio, clubes, escolas, universidades e no espaço público em geral, é a mesma que se exprime politicamente agora.
Adestrada em sua profunda despolitização pelos novos sábios do mundo corporativo com os maravilhosos 'ideais' arrivistas, egoístas e narcisistas, sacralizados pela sua nova religião individualista: a propaganda.
É ela que agora reafirma seu jeito de ser.
Como uma nova tecnologia de celular ou computador, ela agora "embarca" de cabeça na "onda" Kassab.
Assim como, por medo que alguma coisa mudasse, em segundos escolheu e entregou o país nas mãos do Collor em 89 e depois não assumiu sua irresponsabilidade e leviandade. Assim como não satisfeita com Maluf elegeu Pitta e nós todos pagamos esta conta. Assim como daqui alguns dias fará com seu celular. É esta mesmo que, outra vez rapidamente irá negar ter votado em Kassab, inflar o peito e repetir orgulhosa: "Eu odeio política!”
Hoje, nossa classe média, eternamente ávida por salvadores da pátria (um novo D Sebastião!) engole, assim como faz com seus fast-foods, sem mastigar o novo lançamento do mercado: Kassab!
É impressionante a forma semelhante com isso se dá.
Kassab em menos de um mês ultrapassou Maluf, Alckmin e Marta e desponta como favorito.
Não lembra o Collor? Que saiu do esgoto, como um rato, aparentemente sem apoio e de uma hora pra outra virou um fenômeno eleitoral especialmente em SP? Estranho né?
Não lembra o Pitta? Um candidato fabricado na Eucatex. Que era um ninguém e num instante virou também prefeito de São Paulo.
Coincidência?
Aliás, Pitta a quem Kassab serviu!
Seria engraçado se não fosse trágico.
Os argumentos parecem ser sempre os mesmos. Quer ver:
1º "Ele" é uma pessoa nova! Representa mudança!
(seu currículo já era!)
2º "Ele" não atacou ninguém!
(apesar de não ser a verdade, já está santificado)
3º “Ele” está fazendo coisas que outros não fizeram!
(Dá-lhe mentiras e marketing!)
Aliás, deve ser fácil ser marqueteiro em SP. É só reproduzir o mesmo discurso e pronto. Assim com nas novelas, no Faustão, na Malhação, no programa da Hebe, no cinema norte-americano que a classe média tanto gosta. Tudo sempre igual! Haja monotonia!
Ah, mas tem de disfarçar um pouco, como fez o PFL: mudar o nome, o número e a cor do partido e pronto Então, você, assim como prometem os maravilhosos e qualificados programas femininos da TV - se transformará em uma nova pessoa! Não é fantástico?
A psicanálise há muito conhece bem estes “mecanismos de defesa”, mas para que qualquer neurose seja superada é necessário que o paciente reconheça sua condição. Exatamente o mais difícil pra essa gente, pois exige aquilo que mais lhe falta: personalidade.
Ah, por falar em personalidade. Cadê os eleitores do PSDB? Hein?
O que aconteceu com o Alckmin? Até agora pouco ele não era o frisson de nossa classe média? O candidato mais maravilhoso. O anti-Lula! O próximo presidente?
Se com seus “aliados”, já na campanha eles fazem assim, imagine com a cidade.
Boa Sorte São Paulo!
Milton Fernandes
Professor de História
Uma Nova Velha História.
"(...) O indivíduo completo é aquele que tem capacidade de entender o mundo, sua situação no mundo e que, se ainda não é cidadão, sabe o que poderiam ser os seus direitos.
É neste sentido que me pergunto se a classe média é formada de cidadãos. Eu digo que não. Em todo caso, no Brasil não o é, porque não é preocupada com direitos, mas com privilégios. O processo de desnaturação da democracia amplia a prerrogativa da classe média, ao preço de impedir a difusão de direitos fundamentais para a totalidade da população. E o fato da classe média gozar de privilégios, não de direitos, que impede aos outros brasileiros ter direitos. É por isso que no Brasil não há cidadãos. Há os que não querem ser cidadãos, que são as classes médias, e há os que não podem ser cidadãos, que são todos os demais, a começar pelos negros que não são cidadãos. Digo-o por ciência própria. (...) "
Milton Santos
De novo a cidade de São Paulo nos presenteia com sua tradição política conservadora.
No momento em que qualquer pessoa minimamente informada e bem intencionada comemora o 'funeral' nacional do PFL, agora disfarçado ou travestido de DEM (Democratas, belo nome pra justamente eles que foram a base de sustentação da Ditadura Fascista de 64) derrotado até na Bahia terra de seu ícone ACM – justamente em São Paulo a maior cidade do Hemisfério Sul vergonhosamente representa a grande esperança de sobrevivência do partido que é a cara do Coronelismo do Sertão, do atraso, dos Generais, da antiga UDN, etc.
Especialmente na cidade de São Paulo esse 'ideal' se é que podemos chamá-lo assim, importado de Portugal Medieval, aqui 'adaptado' pelos Bandeirantes (Bandoleiros e Assassinos fundadores da sociedade mais violenta do planeta) e "aperfeiçoado" pelos Barões do café – (Jecas Aristocráticos metidos a Europeus que enriqueceram esfolando escravos e imigrantes e condenando o país a um atraso secular)
Este mesmo 'ideal' ressurge e sobrevive sistematicamente na cidade de São Paulo, por vezes de forma inacreditável em jovens e em pobres – que se pensam classe média e reproduzem sem saber ou mesmo com convicção – argumentos reeditados de seus avós ou bisavós que outrora votaram em Carlos Lacerda, Jânio, Ademar de Barros e saíram às ruas com "Deus, a Família e etc.". Renasce novamente e de novo se afirma "orgulhosamente’: avesso à política. Mas são os mesmos de sempre que não perdem uma oportunidade de elegerem Maluf, Collor, Pitta e agora Kassab.
Esta História (ou farsa?) é monótona em sua estranha fixação de sempre andar para trás.
Como também é monótona a 'ladainha' de seus argumentos propagados por pólos de excelência: tipo Revista Veja, Caras, e por aí vai.
Argumentos que sempre objetivam uma única e sagrada garantia: que no final das contas nada mude nem um milímetro!
E talvez aí resida a alma desta herança maldita: o medo!
No fundo parece que esta 'tacanhice' crônica nasce mesmo do medo daquilo que não conhecemos ou por profunda ignorância não queremos conhecer. E se há uma coisa que praticamente nunca existiu no Brasil – o país onde a escravidão foi (ou é?) a instituição mais importante de toda a sua história – essa “coisa” assustadora se chama solidariedade. Daí esse modelo de “civilidade” anti-social onde nossa classe média é especialista e o maior objetivo de votar em Kassab assim como votou em Serra: manter a periferia como sempre esteve (EXCLUÍDA).
Num mundo que cada vez mais se torna analfabeto, o analfabetismo “espiritual” desta cidade chega a impressionar.
A história também mostra o que uma classe média tacanha é capaz.
É claro que exemplo maior é o Nazismo Alemão, onde uma classe média egoísta, ambiciosa, assustada, medrosa e ignorante foi a principal responsável pela ascensão de Hitler e seu "ideal" também conservador.
Nossa classe média, penso, é de fato muito parecida. Vemos o preconceito como seu traço principal. Mas, muito mais forte que isso é o seu desejo de receber ordens. (Atualmente Universidades, que já foram centros de excelência, recorrem a reuniões de pais e pedagogia infantil para educar jovens de classe média “geração Malhação ou pós Xuxa”) Este grupo parece desejar ardentemente ordens: seja de um deus, de um patrão, de um governo, ou especialmente daquele que ela mais respeita e teme: a mídia.
Como uma criança que não quer crescer, tudo que ela sonha é com um "pai” autoritário que lhe diga o que é certo e retire o insuportável peso de ter de assumir responsabilidades assim como fazem as marcas, as “tendências" da moda, as “grifes” que tanto são obedecidas.
Essa mesma classe média que cotidianamente nos brinda com exemplos de sua “civilidade” em reuniões de condomínio, clubes, escolas, universidades e no espaço público em geral, é a mesma que se exprime politicamente agora.
Adestrada em sua profunda despolitização pelos novos sábios do mundo corporativo com os maravilhosos 'ideais' arrivistas, egoístas e narcisistas, sacralizados pela sua nova religião individualista: a propaganda.
É ela que agora reafirma seu jeito de ser.
Como uma nova tecnologia de celular ou computador, ela agora "embarca" de cabeça na "onda" Kassab.
Assim como, por medo que alguma coisa mudasse, em segundos escolheu e entregou o país nas mãos do Collor em 89 e depois não assumiu sua irresponsabilidade e leviandade. Assim como não satisfeita com Maluf elegeu Pitta e nós todos pagamos esta conta. Assim como daqui alguns dias fará com seu celular. É esta mesmo que, outra vez rapidamente irá negar ter votado em Kassab, inflar o peito e repetir orgulhosa: "Eu odeio política!”
Hoje, nossa classe média, eternamente ávida por salvadores da pátria (um novo D Sebastião!) engole, assim como faz com seus fast-foods, sem mastigar o novo lançamento do mercado: Kassab!
É impressionante a forma semelhante com isso se dá.
Kassab em menos de um mês ultrapassou Maluf, Alckmin e Marta e desponta como favorito.
Não lembra o Collor? Que saiu do esgoto, como um rato, aparentemente sem apoio e de uma hora pra outra virou um fenômeno eleitoral especialmente em SP? Estranho né?
Não lembra o Pitta? Um candidato fabricado na Eucatex. Que era um ninguém e num instante virou também prefeito de São Paulo.
Coincidência?
Aliás, Pitta a quem Kassab serviu!
Seria engraçado se não fosse trágico.
Os argumentos parecem ser sempre os mesmos. Quer ver:
1º "Ele" é uma pessoa nova! Representa mudança!
(seu currículo já era!)
2º "Ele" não atacou ninguém!
(apesar de não ser a verdade, já está santificado)
3º “Ele” está fazendo coisas que outros não fizeram!
(Dá-lhe mentiras e marketing!)
Aliás, deve ser fácil ser marqueteiro em SP. É só reproduzir o mesmo discurso e pronto. Assim com nas novelas, no Faustão, na Malhação, no programa da Hebe, no cinema norte-americano que a classe média tanto gosta. Tudo sempre igual! Haja monotonia!
Ah, mas tem de disfarçar um pouco, como fez o PFL: mudar o nome, o número e a cor do partido e pronto Então, você, assim como prometem os maravilhosos e qualificados programas femininos da TV - se transformará em uma nova pessoa! Não é fantástico?
A psicanálise há muito conhece bem estes “mecanismos de defesa”, mas para que qualquer neurose seja superada é necessário que o paciente reconheça sua condição. Exatamente o mais difícil pra essa gente, pois exige aquilo que mais lhe falta: personalidade.
Ah, por falar em personalidade. Cadê os eleitores do PSDB? Hein?
O que aconteceu com o Alckmin? Até agora pouco ele não era o frisson de nossa classe média? O candidato mais maravilhoso. O anti-Lula! O próximo presidente?
Se com seus “aliados”, já na campanha eles fazem assim, imagine com a cidade.
Boa Sorte São Paulo!
Milton Fernandes
Professor de História
7 comentários:
Professor, desculpe tripudiar, mas os candidatos de São Paulo (sem excessões: Marta, Kassab, Alckmin)são sofríveis...De fato, temos que repensar muito, o que leva a este funil político?
Isso por que você não conhece os vereadores eleitos! É um deus nos acuda! Dá pra ter uma idéia depois de termos o Clodovil como o Dep. Federal mais votado...
É tá dificil, mas acho que infelizmente, a classe média de sp, não mudará tão cedo, ela representa o que há mais de retrogrado, covarde e sujo no país.
posso dar meu exemplo.
nasci e fui criado até 6 anos, na v.sabrina(zona norte) até os seis anos, (1977-1984)não era classe média, mas a convivencia com a tal, me deixou sequelas, (dai até hoje eu me vejo "endireitando" as vezes, em virtude desse medo.
Aprendi coisas horriveis, como que o Lula era bandido, mandava matar seus proprios companheiros.
que o maluf era honesto, que comunista era tudo vagabundo,e tinha que ser exterminado até 1993 mantive essa ideia fixa na cabeça.
NÃO QUERO GENERALIZAR MAS A ZONA NORTE DE SP, REDUTO DE MILITAR DA RESERVA E DESCENDENTES SE EUROPEUS(ESPANHOIS E PORTUGUESES) QUE QUEREM MANTER SEU MUNDO MESQUINHO SÃO SIM O LUGAR MAIS REACIONÁRIO DO BRASIL
E parece que a nova sensação política de SP faz muito sucesso por estas bandas.
Interessante este traço conservador da Zona Norte. Um lugar que apesar de ter uma aparência 'estilosa' tipo família Nardoni mas que também concentra grandes pólos de miséria e exclusão votar como se fosse os Jardins ou Moema.
Será que Freud explica ???
Abraço
não sei caro professor Milton, mas infelizente é verdade, lá é o berço d janismo, malufismo, e outros.........
e o peio mesmo a camada mais pobre é extremamente reacionária
São Paulo é a "metrópole" mais provinciana do planeta!
Fico aqui pensando em como a Geografia é uma coisa poderosa
Se a gente for pensar de verdade o local em questão vive, assim como a boa parte da zona Sul uma situação de separação muito clara - ficam além dos rios
Tietê e Punheiros
e o efeito é justamente o inverso
interessante
mas de qquer forma
...Graças a Deus O Brasil não é São Paulo e muito menos a Zona Norte
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