14.9.08

A educação pelo olhar da Revista Veja

Em razão do espaço reduzido terei que fazer aqui a mesma coisa que a revista do grupo Abril fez na sua edição de 20/8/08, quando tratou da educação no Brasil: retirar frases do contexto.
Portanto, considerem esse fato ao lerem o que segue.
Depois de examinar 130 livros de História, Geografia e Português (com quais critérios?) a dita cuja concluiu que o nó da educação brasileira reside em duas pontas: a qualidade dos livros didáticos e a ideologia dos professores, que, segundo a mesma, são todos esquerdistas (quase infantis).
A maior lacuna da reportagem reside aí. Faltou analisar livros e professores de Matemática, Física, Biologia, Química e Inglês, isso para tratarmos do chamado núcleo comum, sem contar Artes, Atualidades, Tecnologias e Mídias, Sociologia, Filosofia, ou ainda Teatro, Música etc., a depender do currículo da escola e da região.
É óbvio que os manuais didáticos contêm erros, sejam conceituais ou factuais, pois são obras de simples seres humanos, portanto sujeitos a todas as falhas inerentes à espécie.
Também não podemos nos esquecer dos gigantescos interesses das editoras de livros didáticos, a Abril inclusive – com as “grifes” Ática e Scipione – principalmente no tocante às vendas para os governos. Sabemos que a produção em massa e, às vezes, a toque de caixa para atender encomendas podem comprometer o “produto”.
Professores panfletários também existem, conheci alguns e vez por outra me acusam disso também, principalmente quando analisam o curso de Geografia do Ensino Médio de três anos a partir de uma aula de 45 minutos.
Feitas estas observações, vamos ao trabalho.
Os livros didáticos escolhidos para o escárnio pela matéria pertencem às seguintes editoras:
Anglo (1 citação)
COC (4)
Objetivo (3)
Pitágoras (2)
Ática (6)
Atual (3)
Harbra (1)
Moderna (9)
Nova Geração (2)
Quinteto Editorial (2)
Saraiva (2)
Scipione (2)
As quatro primeiras empresas são sistemas de ensino, as outras são editoras. Destaque para os 8 problemas apontados em obras da própria Abril.
Os livros apontados estão assim distribuídos:
Geografia (16)
História (19)
Português (2)
Primeiro estranhamento: a maior editora do ramo de sistema de ensino, também fabricante de softwares e computadores, a Positivo, não foi citada uma única vez. Encontramos na publicação Nova Escola – da Fundação Victor Civita – grandes anúncios deste grupo, mais exatamente duas páginas duplas na edição de agosto. Embora encontremos outros anunciantes na mesma revista, alguns criticados na reportagem da Veja, como a Saraiva/Atual (1 página), Objetivo Sistema de Ensino (1 página), Rede Pitágoras (1 página), além de outros que não foram “premiados”: Sistema Maxi de Ensino (1 página). Sistema de Ensino Dom Bosco (1 página) e Expoente Sistema de Ensino (1 página), a ausência das obras do sistema Positivo chama a atenção.
Segundo Estranhamento: a Veja corretamente identifica as editoras Ática e Scipione como pertencentes ao grupo Abril, mas não cita o Sistema de Ensino Ser, também pertencente ao Grupo Abril. Será este o único sistema de ensino neutro e portador da verdade universal? Verifiquem vocês mesmos: http://www.ser.com.br/.
Primeira conclusão: se Veja analisou 130 livros e encontrou 37 problemas, podemos pensar que outros 93 estão em perfeita ordem, de acordo com o INDEX preparado pela Abril? Quais são eles? A quais editoras ou sistemas de ensino pertencem?
Segunda conclusão: os professores de História e Geografia são formados de acordo com as premissas dos senhores Marx e Lênin, pois não? Eles possuem o poder sobre a frágil mente de crianças indefesas há décadas, por isso a conspiração comunista, patrocinada pelos charutos de Havana, grassa em nossa pátria! Façam-me o favor!
Veja mais uma vez usa de má fé ao falar de educação como é de seu costume e, a bem da verdade, essa má fé está presente ao tratar de todo e qualquer assunto.
Ao comentar um equívoco do autor de “Das cavernas ao terceiro milênio 3”, que informa ter sido o presidente Allende assassinado, a revista responde assim: “ O presidente Salvador Allende foi mesmo deposto por generais golpistas com a ajuda material e estratégica da CIA, mas desgastou-se pela própria incompetência e não foi assassinado. Suicidou-se.”
Ora, não está aí um juízo de valor? Incompetência cara-pálida? Não! Foi traído por homens que compunham o aparato de Estado, Pinochet à frente e o apoio não apenas da CIA, mas de todo o aparato de governo dos EUA.
Resvala ainda no preciosismo imbecil, como na crítica a uma apostila de História do Objetivo. Nela o autor afirma: “O mapa que mostra a rota da Coluna Prestes (1925-1927) inclui o estado do Tocantins.” Comentário da revista: “O estado de Tocantins só foi criado em 1988.” Claro que o autor, ou o revisor, poderia ter oferecido uma melhor construção para a frase, mas a gravidade de tal equívoco merece tamanho destaque?
A profundidade das análises de Veja, raramente ultrapassam a de um pires.

3 comentários:

Pedro Hauck disse...

E os argumentos de Veja contra o Che Guevara? Coisas como "ele não tomava banho..."
A Veja há muito tempo se acostumou com fofocas e eles querem usar este tipo de jornalismo com coisas sérias.

Renato Couto disse...

Achei um texto meu antigo, acho que foi pro jornal da faculdade, na época da eleição do Collor, a Veja é assim de longa data: "um conluio entre a mesma e o que de mais podre há na República."

Abraços!

Prof Toni disse...

Concordo com vocês, mas se eu não escrevesse sobre isso meu fígado ficaria paralisado!