Ao abrir o portal UOL e ler a manchete que dá título à matéria reproduzida abaixo, enchi-me de esperança: finalmente a Folha de S.Paulo fará um mea culpa, embora, reconheçamos, ela tem dado o tratamento mais próximo do correto dentre os órgãos da grande mídia, exceção feita à CartaCapital.
Sim, pois é flagrante a diferença de tratamento que a mídia vem dispensando aos dois episódios destacados: o “mensalão do PT” e o “mensalão mineiro”, a começar pelo batismo dos mesmos. Reparem que um tem partido e outro tem apenas o gentílico do estado de origem.
Avidamente dediquei-me a ler.
Já no primeiro parágrafo percebi do que se tratava. A crítica não era para a imprensa, mas sim para o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, em razão do indiciamento de Azeredo e do não indiciamento do presidente Lula.
Ao longo da matéria ela mesma explica a razão dessa diferença de tratamento: escutas, documentos, indícios claros etc.
A notícia é uma não-notícia. Quem lê o primeiro parágrafo, instado pela chamada, conclui que o procurador-geral protegeu Lula, afinal foi indicado por ele, ao mesmo tempo em que exagerou na dose com o senador Eduardo Azeredo, um pobre coitado da oposição.
Tratamentos a Lula e Azeredo contrastam
RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo
O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, tratou de forma contrastante as eventuais responsabilidades do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do então governador de Minas Gerais e hoje senador, Eduardo Azeredo (PSDB), pelos dois esquemas montados por políticos com apoio do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza – mensalão petista, ativo entre 2003 e 2005, e o valerioduto tucano de 1998.
Seguindo a lógica da CPI dos Correios, cujo comando estava nas mãos da base aliada, Souza isentou Lula de qualquer acusação. Na denúncia que o procurador apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal), em abril de 2006, o nome do presidente é citado apenas três vezes e sua conduta sequer foi avaliada. Lula nunca foi ouvido formalmente pelo procurador.
Diversos trechos de depoimentos prestados por personagens da crise que citavam o presidente deixaram de constar da denúncia final. O ex-governador Marconi Perillo (PSDB-GO), por exemplo, que disse ter advertido Lula, em 2004, nunca foi interrogado pelo procurador. O que ele disse à imprensa e repetiu em carta enviada ao Conselho de Ética da Câmara não consta da denúncia.
O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou ter alertado Lula, também pessoalmente, em janeiro de 2005, mas não houve uma ordem presidencial para abertura de inquérito na Polícia Federal. O caso só começou a ser investigado pela PF quase seis meses depois, a partir da entrevista de Jefferson à Folha. O procurador-geral passou ao largo desse silêncio presidencial.
Em novembro de 2006, Souza afirmou, em entrevista à Folha: "Até agora, não apareceu a participação dele [Lula]. Não quero dizer que não possa aparecer. Nós estamos apurando os fatos. (...) Só posso fazer acusações se eu puder apresentar elementos concretos. Se eu não fizer denúncia consistente, o STF não vai recebê-la".
Diferentemente do tratamento dado a Lula, Azeredo foi acusado de peculato e lavagem de dinheiro. A denúncia levanta um amplo leque de indícios e seu nome aparece 167 vezes no documento de 89 páginas.
No entender do procurador, Azeredo "foi o principal beneficiário do esquema implementado". O mesmo, numa certa interpretação jurídica, poderia ser dito sobre Lula. Mas contra Azeredo, segundo o procurador, há vários indícios que o jogam no centro da trama.
Um é a confirmação de conversas pessoais e por telefone entre Valério e Azeredo – as investigações sobre o mensalão, ao contrário, não apontaram contatos entre Lula e o publicitário. Eles ocorreram entre Valério, José Dirceu e o ex-tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares. A CPI dos Correios detectou pelo menos 72 telefonemas entre Azeredo e Valério e suas empresas de publicidade.
Outro ponto que põe em xeque a conduta de Azeredo foi uma movimentação política ocorrida em 2002 que o procurador chamou de "operação abafa" para supostamente impedir que o ex-tesoureiro do senador, Cláudio Mourão, denunciasse as irregularidades da campanha eleitoral de 1998.
Em outubro daquele ano, Mourão passou a cobrar de Azeredo, judicialmente, R$ 1,5 milhão para quitar supostas dívidas de campanha. Parte do débito foi paga a partir de uma triangulação entre Marcos Valério, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e o próprio Azeredo, que aparece como avalista de um empréstimo no Banco Rural usado para cobrir o pagamento.
Depois do depósito na conta de uma empresa ligada a Mourão, surgiu outro documento: uma lista assinada por Mourão e entregue à Polícia Federal e à imprensa pelo lobista Nilton Monteiro, que também havia trabalhado na campanha de Azeredo. O papel, cuja autenticidade foi atestada por peritos do Instituto Nacional de Criminalística da PF, em Brasília, diz que Azeredo recebeu R$ 4,5 milhões para "compromissos diversos (questões pessoais)".
Para o procurador, "todas as provas coletadas na fase pré processual revelam que o esquema verificado em Minas Gerais no ano de 1998, para financiar clandestinamente a disputa eleitoral, foi planejado e executado, sem prejuízo do envolvimento de outras (denunciadas nesse momento ou não), pelas seguintes pessoas: Eduardo Azeredo, Walfrido dos Mares Guia, Clésio Andrade, Cláudio Mourão, Eduardo Guedes, Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach".
Clique aqui para ver a matéria no site da Folha Online.
Sim, pois é flagrante a diferença de tratamento que a mídia vem dispensando aos dois episódios destacados: o “mensalão do PT” e o “mensalão mineiro”, a começar pelo batismo dos mesmos. Reparem que um tem partido e outro tem apenas o gentílico do estado de origem.
Avidamente dediquei-me a ler.
Já no primeiro parágrafo percebi do que se tratava. A crítica não era para a imprensa, mas sim para o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, em razão do indiciamento de Azeredo e do não indiciamento do presidente Lula.
Ao longo da matéria ela mesma explica a razão dessa diferença de tratamento: escutas, documentos, indícios claros etc.
A notícia é uma não-notícia. Quem lê o primeiro parágrafo, instado pela chamada, conclui que o procurador-geral protegeu Lula, afinal foi indicado por ele, ao mesmo tempo em que exagerou na dose com o senador Eduardo Azeredo, um pobre coitado da oposição.
Tratamentos a Lula e Azeredo contrastam
RUBENS VALENTE
da Folha de S.Paulo
O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, tratou de forma contrastante as eventuais responsabilidades do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do então governador de Minas Gerais e hoje senador, Eduardo Azeredo (PSDB), pelos dois esquemas montados por políticos com apoio do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza – mensalão petista, ativo entre 2003 e 2005, e o valerioduto tucano de 1998.
Seguindo a lógica da CPI dos Correios, cujo comando estava nas mãos da base aliada, Souza isentou Lula de qualquer acusação. Na denúncia que o procurador apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal), em abril de 2006, o nome do presidente é citado apenas três vezes e sua conduta sequer foi avaliada. Lula nunca foi ouvido formalmente pelo procurador.
Diversos trechos de depoimentos prestados por personagens da crise que citavam o presidente deixaram de constar da denúncia final. O ex-governador Marconi Perillo (PSDB-GO), por exemplo, que disse ter advertido Lula, em 2004, nunca foi interrogado pelo procurador. O que ele disse à imprensa e repetiu em carta enviada ao Conselho de Ética da Câmara não consta da denúncia.
O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou ter alertado Lula, também pessoalmente, em janeiro de 2005, mas não houve uma ordem presidencial para abertura de inquérito na Polícia Federal. O caso só começou a ser investigado pela PF quase seis meses depois, a partir da entrevista de Jefferson à Folha. O procurador-geral passou ao largo desse silêncio presidencial.
Em novembro de 2006, Souza afirmou, em entrevista à Folha: "Até agora, não apareceu a participação dele [Lula]. Não quero dizer que não possa aparecer. Nós estamos apurando os fatos. (...) Só posso fazer acusações se eu puder apresentar elementos concretos. Se eu não fizer denúncia consistente, o STF não vai recebê-la".
Diferentemente do tratamento dado a Lula, Azeredo foi acusado de peculato e lavagem de dinheiro. A denúncia levanta um amplo leque de indícios e seu nome aparece 167 vezes no documento de 89 páginas.
No entender do procurador, Azeredo "foi o principal beneficiário do esquema implementado". O mesmo, numa certa interpretação jurídica, poderia ser dito sobre Lula. Mas contra Azeredo, segundo o procurador, há vários indícios que o jogam no centro da trama.
Um é a confirmação de conversas pessoais e por telefone entre Valério e Azeredo – as investigações sobre o mensalão, ao contrário, não apontaram contatos entre Lula e o publicitário. Eles ocorreram entre Valério, José Dirceu e o ex-tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares. A CPI dos Correios detectou pelo menos 72 telefonemas entre Azeredo e Valério e suas empresas de publicidade.
Outro ponto que põe em xeque a conduta de Azeredo foi uma movimentação política ocorrida em 2002 que o procurador chamou de "operação abafa" para supostamente impedir que o ex-tesoureiro do senador, Cláudio Mourão, denunciasse as irregularidades da campanha eleitoral de 1998.
Em outubro daquele ano, Mourão passou a cobrar de Azeredo, judicialmente, R$ 1,5 milhão para quitar supostas dívidas de campanha. Parte do débito foi paga a partir de uma triangulação entre Marcos Valério, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e o próprio Azeredo, que aparece como avalista de um empréstimo no Banco Rural usado para cobrir o pagamento.
Depois do depósito na conta de uma empresa ligada a Mourão, surgiu outro documento: uma lista assinada por Mourão e entregue à Polícia Federal e à imprensa pelo lobista Nilton Monteiro, que também havia trabalhado na campanha de Azeredo. O papel, cuja autenticidade foi atestada por peritos do Instituto Nacional de Criminalística da PF, em Brasília, diz que Azeredo recebeu R$ 4,5 milhões para "compromissos diversos (questões pessoais)".
Para o procurador, "todas as provas coletadas na fase pré processual revelam que o esquema verificado em Minas Gerais no ano de 1998, para financiar clandestinamente a disputa eleitoral, foi planejado e executado, sem prejuízo do envolvimento de outras (denunciadas nesse momento ou não), pelas seguintes pessoas: Eduardo Azeredo, Walfrido dos Mares Guia, Clésio Andrade, Cláudio Mourão, Eduardo Guedes, Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach".
Clique aqui para ver a matéria no site da Folha Online.
A capacidade da Folha em manipular está passando dos limites!
Não estou inocentando Lula, ou condenando Azeredo, o problema aqui é da mídia.
Nas entrelinhas podemos perceber a grande frustração da Folha de S.Paulo: eleição e reeleição de Lula e a consequente derrota dos seus candidatos.
Como dizem os bons jornalistas este é um dos melhores exemplos de como a grande mídia briga com a notícia.
Um comentário:
Fala Gordinho... valeu a presença...
De fato o som atrapalhou muito... Com som bom, já não é fácil driblar a ansiedade e ter concentração para cantar... imagina com aquele som terrível... Aquelas músicas do "Clube da Esquina", eu vou cantar lá na escola na sexta feira a noite, lá prá umas 21:00 hs... Ontem era na verdade o segundo ensaio com o violonista...
Depois mando email com endereço...
Beijos
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