16.11.07

O rei bombril

Ótimo texto publicado na Nova-e. Bom termos leituras diferentes daquelas apresentadas pela grande mídia.

O rei bombril

Laerte Braga

O rei Juan Carlos foi para o plenário do encontro de países ibero-americanos irritado com as duras críticas do presidente Lula (Brasil) e da presidente Bachelet (Chile) feitas momentos antes de sua explosão grosseira com o presidente Chávez (Venezuela). Lula e Bachelet foram incisivos com o primeiro-ministro Zapatero sobre a forma de atuação de empresas espanholas em seus países.
Em plenário, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, havia denunciado a intervenção descarada de José Maria Aznar no processo eleitoral de seu país, na tentativa de derrotá-lo.
O presidente Néstor Kirchnner (Argentina) fez duras críticas a Aznar por seu comportamento na crise que quase desmonta a Argentina e durante o breve governo Duhalde. Kirchnner disse que Aznar, então primeiro-ministro, havia ligado para o presidente argentino e exigido o cumprimento do acordo com o FMI. É que foram suspensos todos os pagamentos da dívida externa diante da crise que se seguiu à renúncia do ministro de La Rúa. Foram duas ligações em que Aznar tratou o colega argentino como uma espécie de governador da coroa espanhola.
Juan Carlos é chefe de Estado e não chefe de Governo. Não havia necessidade de sua presença no encontro de governos de países ibero-americanos. Foi ao Chile como representante de empresas espanholas.
Juan Carlos é neto do rei espanhol deposto pela ditadura franquista e para ser indicado rei, o ditador Franco exigiu que seu pai renunciasse ao seu direito ao trono. Para ser rei rompeu com seu pai, atropelou seu pai e se fazendo de bobo, de idiota, foi comendo o mingau pelas beiradas, como dizemos aqui.
Juan Carlos silenciou durante a tentativa de golpe de estado na Espanha, em 1981. Franquistas chefiados por Millan del Bosch tentaram fechar o Parlamento e pleiteavam que todo o poder fosse dado ao rei. Juan Carlos seria o grande beneficiário do golpe. Na Espanha, como na Grã Bretanha, rei reina, mas não governa. Diante do fracasso pronunciou-se pela "legalidade democrática". O jornalista Mauro Santayana trouxe à lembrança esse fato em excelente artigo e mostra que a atitude do rei lhe custou o respeito de espanhóis comprometidos com a democracia.
O golpe de abril de 2002 contra Chávez foi desfechado numa quinta feira e no domingo o presidente venezuelano estava de volta ao poder pelas mãos do povo. Dois governos estavam sabidamente implicados no processo golpista e foram os únicos a reconhecerem de imediato o "governo" de Pedro Carmona. Carmona é sócio de várias empresas espanholas, era o presidente da federação das indústrias da Venezuela, similar da FIESP naquele país. Vale dizer, máfia de sonegadores e coisas piores.
Juan Carlos paga perto de dez mil dólares por antílope caçado na Suíça, em temporada de férias. O governo suíço cobra um alto preço dos caçadores, pois caçam uma espécie em extinção, o antílope europeu.
Juan Carlos e o primeiro-ministro Zapatero são adversários. Na cabeça do rei os países latino-americanos têm que se curvar à Espanha. Raciocina ainda como colonizador. Aquele que vinha e levava o ouro e a prata. Milton Nascimento canta uma canção que ilustra a chegada de um capitão espanhol a um porto brasileiro e o saque promovido a partir de seu navio cheio de canhões.
A presença do rei no encontro é pura propaganda do suco de Espanha. É feito com a extorsão e a exploração de empresas espanholas na América Latina sobre trabalhadores. Não cabe a ele ditar a política de seu país.
A forma como se dirigiu a Hugo Chávez foi desrespeitosa, autoritária, prepotente e deixou claro todo o pensar do rei de Espanha. Pensa como Franco, pensa como Aznar, pensa como a OPUS DEI, faz parte da extrema-direita européia, aquela que considera imigrantes cidadãos de segunda categoria. Franco foi apoiado por Hitler na guerra civil de seu país.
A resposta de Chávez veio à altura. Quem é o rei para calar o presidente eleito pela vontade do povo, por três vezes, num país soberano e independente?
Fernanda Brozoski, estudante da Universidade Central da Venezuela, enviou comunicado a várias comunidades na internet onde adverte para o vídeo falso exibido pela GLOBO no Brasil a propósito dos incidentes envolvendo manifestantes pró e contra Chávez.
Segundo a estudante, o vídeo mostrado no JORNAL NACIONAL (porta-voz da mentira FIESP/DASLU), exibe policiais de outro país, "pois os uniformes não são de policiais daqui". A estudante afirma que as instalações da universidade são as exibidas, mas todo o resto foi montado. E é textual ao dizer que os chavistas foram agredidos por adversários.
"Neste mesmo vídeo vocês vão ver que dois dos estudantes feridos estão de camisas vermelhas". Símbolo do chavismo. A GLOBO apresentou-os aqui como adversários de Chávez agredidos por partidários do presidente, supondo, lógico, que o detalhe não viesse a ser percebido. Para a GLOBO importante é veicular a mentira e tentar transformá-la em verdade.
Brozoski afirma que GLOBO trocou deliberadamente, lógico, a posição de agressores e agredidos. Estudantes de universidades particulares contrários a Chávez, agredindo estudantes da universidade pública. Não podia imaginar que o fato viesse a ser descoberto por aqui, o vídeo editado, montado, adulterado, foi exibido em oito de novembro agora.
É evidente que a GLOBO não vai publicar ou fazer menção à carta da estudante venezuelana e tampouco mudar sua característica de rede a serviço do grande capital nacional e internacional. William Bonner já rotulou os telespectadores do JORNAL NACIONAL de simplórios, de idiotas, quando chamou-os de Homer Simpson diante de professores e estudantes da UNICAMP.
Juan Carlos foi ao Chile como garoto propaganda de empresas espanholas. Desde bancos, empresas de telefonia e comunicações a cafetões como Chico Recarey. É o seu papel. É o que tem feito.
E há um detalhe pouco citado em todo esse processo em que tentam transferir o epíteto de grosseiro para Chávez. Já dominado e moldado pelas cortes de seu país, o primeiro-ministro Zapatero sabe que Juan Carlos ressuscitou o líder fascista Jose Maria Aznar.
O rei falou para fora, atendendo ao golpismo norte-americano. Para dentro, atendendo aos franquistas, aos bancos, às elites, colocou Zapatero em segundo plano, não perdoa o fato de Zapatero ter retirado as tropas espanholas do Iraque. Foi ao Chile cumprir seu papel garoto bombril dessas forças. Tem mil e uma utilidades para os "negócios" e é muito bem remunerado.

Fonte: Revista Nova-e
(http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=876)

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