2.11.07

A questão dos livros didáticos

Alguns órgãos de imprensa têm desenvolvido verdadeiro cavalo de batalha com relação aos livros didáticos, principalmente os de História e Geografia.
Infelizmente, como normalmente acontece na nossa mídia-espetáculo, a discussão é pouco séria e serve mais para questões ideológicas do que pedagógicas. São diversos os problemas dessas análises.
Um primeiro problema, grave, é a maneira como a crítica é construída pelos jornalistas. Sem querer aqui questionar a enorme sapiência desses “especialistas em generalidades”, falta-lhes conhecimento no campo da pedagogia e também das ciências, mas, acima de tudo, falta-lhes humildade. Quase sempre arrogantes e com as receitas prontas, questionam a posição ideológica dos autores e, ao mesmo tempo, expõem outra, como se só a deles fosse correta e aceitável.
O segundo problema é a fixação contrária à determinada linha de pensamento, ignorando que ela encontra respaldo e legitimidade nas instituições universitárias sérias, quer sejam no Brasil ou em outros países. Todo texto que questiona o capitalismo e o liberalismo como valores absolutos é detonado.
Um terceiro, muito grave, é a falta de transparência na publicação dos artigos. Os órgãos que o fazem, como as revistas Veja e Época ou o jornal O Globo, não dizem ao leitor que são partes interessadas comercialmente nesta discussão.
A Editora Abril possui duas “grifes” para edição de livros didáticos: Ática e Scipione , além da Veja Na Sala de Aula (clique aqui para acessar o site da publicação), que publica sugestões de aulas e manuais para os professores.
Já a Editora Globo possui diversas publicações destinadas a alunos e professores, destacando-se as revistas Época e Galileu.
A Época na Educação (é só clicar aqui para ler) se apresenta assim: “Desde 2001, as revistas ÉPOCA e GALILEU vão para escolas de segundo grau - selecionadas anualmente - com o objetivo de formar leitores críticos e participativos. Os professores utilizam as sugestões dos fascículos produzidos todos os meses para desenvolver atividades com seus alunos.”. Observem que, para a Época, o Ensino Médio AINDA é chamado de segundo grau.
Nesta mesma linha temos a Carta na Escola (clique aqui para ter acesso ao site da revista), publicação da Editora Confiança proprietária da revista Carta capital.
Nós, professores, sabemos que o melhor material didático é aquele que preparamos, todos os outros contém equívocos, imprecisões ou lacunas, pois são feitos para o “atacado” e na sala de aula temos nossas particularidades. Por outro lado todos sabem, não só os professores, que não temos tempo de preparar nosso próprio material, assim somos levados a escolher aquele que melhor nos atende.
Já trabalhei com vários materiais didáticos, tanto com livros como com sistemas de ensino e nenhum me atendeu plenamente, mas nenhum deles inviabilizou minhas aulas ou me impediu de um trabalho conseqüente com o grupo de alunos.
Essa postura macartista da imprensa em nada ajuda o debate, o melhor seria ouvir a voz dos especialistas, tanto aqueles que estão nas Universidades, como aqueles que estão nas salas de aula. Principalmente estes últimos.

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