1.3.08

Que linda és Cuba II - O Sistema Nacional de Educação de Cuba

Cuba atravessa uma crise estrutural, fruto da derrocada do bloco socialista. Das trocas comerciais de Cuba, 85% eram realizadas com o mundo socialista.
Também o bloqueio americano é agressivo. Basta atentarmos para a tal Lei Helms-Burtton (clique aqui para ler a Lei – em espanhol – e aqui para ler sobre ela).
Em razão destes fatores Cuba não pode mais oferecer bolsas, como fazia até a década de 80, para os países da África e América Latina (prioritariamente).
Hoje os estudantes oriundos de outros países são mais uma fonte de renda para a combalida economia cubana.
Ainda assim, só para dar um exemplo, o curso de medicina (reconhecidamente uma especialidade de destaque mundial) completo custa US$ 53.000, aí inclusos material, alojamento e alimentação, para os estrangeiros, pois o cubano não desembolsa um só centavo pelo curso. Só para comparar: uma anuidade de uma faculdade mediana aqui na Região Sudeste do Brasil não sai por menos de US$ 20.000.
Embora o país tenha vivido uma situação de colapso total no início dos anos 90 - quando houve fome - não foi fechada uma única sala de aula ou policlínica e, embora tenha racionalizado seus gastos, isso não implicou em limitação do atendimento a população ou demissão de profissionais. Continuou garantindo o material necessário para o estudo (uniformes, cadernos, livros, etc.) de todos os alunos, em todos os níveis de ensino.
Hoje Cuba vive dentro do que chamam de "Período Especial em Tempos de Paz", exercitando todas as práticas envolvidas na preparação permanente que sempre tiveram para enfrentar uma eventual invasão militar norte-americana.
Os principais problemas de cunho operacional na educação são a falta de papel e grafite.
A educação em Cuba é democrática, estatal, laica, obrigatória (até o 9º ano), gratuita, e gerida de forma centralizada/descentralizada.
A escola é fator principal na articulação da sociedade, sendo prioritário o papel da família para oferecer a base a partir da qual se atinge a escola.
Tal situação não foi concedida pela natureza ou por milagre, mas é fruto de uma intensa preocupação que o governo revolucionário manifestava já durante a luta. Em cada território libertado, ainda durante a luta de guerrilha, criavam-se escolas.
Os sindicatos e outras organizações, tais como o CDR (Comitê de Defesa da Revolução), FMC (Federação das Mulheres Cubanas), FEU (Federação dos Estudantes Universitários) etc., participam ativamente do processo educacional, atuando diretamente nas escolas através de colegiados, e também da vida do país com assento no Conselho de Estado e demais instâncias de decisão.
Quando, em 1960, o governo resolveu combater o analfabetismo com toda a sua força, optou-se por atacar a causa maior do fenômeno: a falta de escola. No dia primeiro de janeiro de 1960, decorrido um ano da vitória revolucionária foram criadas 4.680 salas de aula, com vários quartéis sendo convertidos em escolas. Assim ocorreu a primeira garantia real de combate ao analfabetismo: escola para todos.
Em 1959 Cuba possuía aproximadamente 1.000.000 de analfabetos. Algo em torno de 27% da população. Na abertura da Assembléia Geral da ONU, Fidel anuncia que Cuba acabaria com o analfabetismo em 1 ano. Em 22/12/61 restava um analfabetismo de 3,2% da população, constituída, na sua maioria por pessoas muito idosas.
Nesse esforço de alfabetização foram envolvidas 77.000 pessoas, entre professores, alfabetizadores populares, brigadistas operários e estudantes. Quem sabia mais (não interessava o quanto mais) ensinava a quem sabia menos.
(este texto é parte do relato do estágio educacional que fiz em Cuba em 1997)

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